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... que trago em mim...

a criança: é birrenta e infantil a mulher: é ciumenta e barraqueira o político: é extremista e guerrilheiro o santo: é profano e &...

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

carência afetiva

sei: sou carta fora do baralho
jogo de cartas marcadas

o que me resta:
cuidar-me para não sofrer

não importa o que pensem
ou que saibam das minhas fraquezas

eu quero é extirpar de mim
esse "mal-do-século"
essa carência
essa perdidez

de quem lutou para chegar
e, ao chegar
esqueceu-se porquê lutara

ode aos seios da eliene

seios sob semblante de luz
ensardecidos por sóis do tempo...
vamos contar sardas?

seios: montes no horizonte
a caminho do regaço...
vamos contar passos?

que faço ligando letras
se os olhos da mente
estão longes do que vejo?

vamos tirar fotografias?
ou: vamos ler o alfabeto?
becê, dêéfe, eleene...

seios, somo natiloucos
por sua essência
vamos catar conchas?
o-que-fazer faz bem
nada justifica o seu olhar perdido
no horizonte do passado
deiza disso logo e vem
pular, manusear
fazer feliz o seu coração

à espera

a espera dói a cada vez que o elevador
é acionado e ela não chega

é tarde e a noite se consome
me consumindo em angústia

o meu casamento está por um filho
e eu não sei onde ela está

ao raiar do dia dia estarei sozinho
definitivamente sozinho

geografia da dor

quando ainda criança
vi meu pai se despedir
uma dor amarga
fez umidecer os meus olhos.

quando ainda menino
saí da fazenda para a metrópole
uma dor amarga
acompanhou minha trajetória

quando ainda adolescente
conheci a desilusão
uma dor amarga
encheu os meus sonhos solitários

quando ainda estudante
vi amigos tombarem
uma dor amarga
marcou minha tomada de consciência

quando já adulto
tive que despedir-me dos filhos
uma dor amarga
voltou a umidecer os meus olhos

a dor da perda passou incólume
pela minha vida
os sintomas são sempre os mesmos
e a surpresa também.

sonho de primavera

abrem-se lábios no meu peito
(sem dor... com enorme prazer)
germina pequeno arbusto...
flora uma rosa cor-de-rosa
com um rosto jovem e belo.

passagem

ela chegou catorze anos depois
passou os dedos no pelos
do meu braço... falou-me de seus
anseios, das suas limitações...
dormiu "feito anjo" no tapete
da sala... como marco jaz o seu perfume
na almofada colorida.

sábado, 15 de setembro de 2007

sobre conselhos

que mais posso fazer
senão apenas ouvir os seus sonhos?!...
um mesmo caminho
pode ser tantas vezes diferente!

decepção

resolvi dar cópias da chave
da minha intimidade a alguém
foi uma decisão difícil
trabalhada durante muitos anos
quanto sentimentos pesei
quantas emoções medi
quantas vezes avancei e recuei
quantas vezes avancei e recuei
encolhendo-me medroso em meu canto
quanta distância percorri
saltei montes e mares
percorri idiomas andarilho
inventei personagens ideais
criei histórias à minha volta
desliguei-me, transcendi-me
para chegar até a você
que agora parte levando as chaves
que fecham as minhas janelas
enquanto a vida muito puta grita
sufocada dento do meu coração.

eu sei

não querias que eu me fosse
ficaste marcando o passos
da minha caminhada
e a linha do teu olhar perdia-se em mim
mas... a falta de coragem de dizer-me
trancou a tua voz

senti pela carícia que fizeste
no umbral da sacada

se regresso
puxarei pela mão o teu coração
e farei falar a voz
do teu corpo frêmito.

balancim

tem um lado de mim
que quer ficar com você
deitar no sofá
assistir a tv
e eir ao clube nos finais de semana

o outro, inquieto
não quer saber
tem tão pouco tempo
e o mundo para ver
decifrar lugares
conhecer gentes
não se deixar morrer.

razões

e agora?
esse fantasma colorido
visitando minhas noites solitárias!

quando ele me olhava
com o seu olhar indecente
deixava-me irada

mas... a cada olhar
peça por peça caía
deixando-me desnuda e encabulada

hoje, meu corpo excitado
procura o seu olhar indispensável

por isso seu fantasma colorido
nas minhas noites solitárias.

fronteiras

a boca aberta, cheia de mosquitos
lança-se ao mundo estupefato em
buscas... o continente já não contenta...
fronteiras e limites desconhecidos
reprimem com maior intensidade...
completamente perdido fala pros
cotovelos e abre poros:
o mundo é a fronteira para o universo!

o singular e o plural

essa sim é uma guerra
de difícil interferência
embora o plçural tenha
vocação de vencedor
o singular não se entrega facilmente.

borboleta e flor

oh, borboleta esvoaçante
sobre jardins de corações!
coletas néctar em cada flor
e o transforma ora em mel ora em fel
nessa efêmera relação borboleta e flor!

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

o atrasado

como cobicei uma bicicleta!
ficava de "olhos compridos"
nas dos meus amigos.

quando pude
já era tempo de lambreta.

como cobicei uma lambreta!

quando pude
já necessitava de um carro.

da mesma forma:
como cobicei a liberdade!

quando, na maioridade, pude
já era tempo de ditadura.

autobiografia

nasci que nem bezerro:
pelas contrações da mãe
pelas mãos do proprietário

cresci que nem boa lavoura:
aproveitando os restos
da que já foi

vivo que nem o curió
que lança seu canto triste
através das grades da gaiola

e quero morrer que nem cachorro velho
que sabe a hora
deita num canto
e deixa de respirar.

conflito interno

existe uma briga
entre eu e mim
que assisto de fora
pra assumir o vencedor.

festa a fantasia

não esqueça de pendurar o ego
no cabide atrás da porta
ao entrar.

erótica

eu que te quero tanto e tanto
sonho às vezes com vozes
de encantamento

sonho o teu corpo
arte esparramada
em colchas de cetim

sonho as tuas entranhas
pétalas de rubra rosa

sonhos...!

terça-feira, 11 de setembro de 2007

o poeta a angústia

o poeta anda angustiada
com a tutela estatal
tanto a municipal
quanto a federal

o poeta anda angustiado
olhando através das barras
do mercado editorial

anda angustiado o poeta marginal
por ter ao seu redor
as margens