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... que trago em mim...

a criança: é birrenta e infantil a mulher: é ciumenta e barraqueira o político: é extremista e guerrilheiro o santo: é profano e &...

terça-feira, 27 de outubro de 2009

estado de espírito

estive no lambe-lambe
não gostei do retrato
o retratista defendeu-se:
"retratamos o estado de espírito"

no meu semblante
pesado, amassado, casmurro

a frustração do "não" da vida
a ruptura cotidiana com elos
interrupção de sonhos
quebra de crenças...
sinto-a distante
não sei se aproximando-se
ou se distanciando-se
a incerteza prende-a em meu pensamento
e assim, pensando em você permaneço
no trabalho, no trânsito, nas reuniões...
ausento-me de mim
buscando encontrá-la...

tum-tum!

não vou mais lhe chamar "amor"
vou lhe chamar de comum
e... meu coração com certeza:
tum-tum!

a cada "vôo de águia"
me sentirei apenas mais um
e... meu coração com certeza:
tum-tum!

anonimato

hoje quero o anonimato do estádio
mais um na multidão desconhecida

ver a forma da solidão completa
sentir os limites do "eu-sozinho"
observar almas
deduzir histórias
"povoar" a mente e cotidianos
visitar o "nonsense" do não viver...
uma "torre de babel" afetiva:

as frustrações contidas
liberadas em um grito de gol!!!
está indecisa a minha vida
não sei se fico
ou
se a estrada é minha lida
sou um ser incompleto
você é a minha completude

olho minhas limitações
e lhe vejo completando lacunas

minha história sem você
são palavras em ordem alfabética

sem noção de ser...

canção popular

uma canção popular
dessas de fm
conta com todos os ventos
que no amor
o que vale é ceder
pra tocar o caminho
que vai se afunilando
com a vida
e que, no fim
só restamos DOIS
quando não restamos

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

wanderson - em memória

eu era assim:
cabelos loiros enpainados
olhos azuis de céu aberto
boca de coelho saltitante
ares de abelha pousando flores

agora sou assim:
brisa vagando cabeças
visão margarida nos lares

poesia alternativa

eu
sumindo entre as árvores
um leve e cândido aceno
de despedida do 6º andar

não se pode confundir as paisagens:
o misto de campo e metrópole
só existe nos nossos corações.

como consequência
da luta armada de caneta
- palavras presas na tipografia -
como consequência da luta armada de vozes
- palavras soltas nas cabeças -
a gritarem: "vivam as saídas!!!"

o agora

é que só te olho
com os olhos do presente
por isso
não vejo em ti
nada de diferente.
e...
aí fiquei com o olhar perdido
nos horizontes de minhas pálpedras...

mulher, mulher, mulher,
tenho de ti um pouco em mim
que me abranda nas duras penas
e briga comigo nas horas amenas.

quero ser o teu afeto
o teu afago na hora do sufoco
e te levar pra debaixo da cama
quando a chuva fizer relâmpago.
o relacionamento humano
é uma gangorra:
enquanto um sobe
outro desce
voa
ou estatela no chão.

domingo, 16 de agosto de 2009

ZÉ DO TREM - lembranças de Catalão

Quando o trem partia de Ouvidor, de dia ou adentrando a madrugada, frio ou calor, Catalão invariavelmente ouvia um "canto penado" que - muito mais que galhofante - era uma ponta de faca na consciência de cada catalano em suas "encucações".

Cada qual sentia naquele canto o alerta para que a sua mente escravizada em algum fato torturante do passado ou do presente despertasse os seus fantasmas.

Todos esperavam ansiosamente - nervosamente ou não - o horário do trem de ferro passar, depois de ribombar pela Boda-da Onça, Rua da Grota, Rua da Capoeira, Rua do Pio, Rua do São João, o canto:

"Ói o trem, o trem lenveeeeeeeeeeeeeeeeeeeemmmmmm!!!
Ói o treeeemmm lenveeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeemmmmmmmmmmmm!!!!..."

E assim procedia até ser ouvido o ronco da Diesel adentrando a rua da Boca da Onça e prosseguia com mais euforia quando ela apontava lá na curva da Benedita:

"Ói.. óiiiiiiiiiiiii oooooooo treeeeeeeeemmmmmlenveeeeeeeeeeeeeeemmmmmmm!!!
Óiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii00000000treeeeeeeeemmmmmmmlenveeeeeeeeeeeeeeeeemmmmm!!!
Ói o treeeemmm lenveeeeeeeeemmmmm!!!!"

O trem passava puxando a sua corrente de cargueiros - pois os vagões de passageiros foram cortados pro mode a barragem que trouxe o "mar" para Três Ranchos - e atrás de si ficava o silêncio estarrecedor com a presença do Zé do Trem muito feliz e realizado voltando rapidamente para o aconchego de sua casa.

no meio do silêncio continuava a ribombar na existência de cada um aquele canto de aviso:

"Ói o trem lenveeeeeeemmmmmmmmmmmmmmmm!!!!"

sábado, 15 de agosto de 2009

você terá tudo que quiser
vou sair de fininho
como sempre fiz:
sem deixar vestígios
da minha passagem
nem traumas da partida.

o amor não se impôem a ninguém
nem há paz nascida de guerras
feridas expostas
vidas estancadas
desejos frutrados
da depressão só poemas sentimentais

só há vida feliz
quendo cúmplices do destino.
sua vontade tem 21 anos
25 anos depois do que vi
o mundo que vês agora
é diferente de tudo que vejo
conheci-a seguindo o horizonte
que havia na ponta do seu olhar
horizonte de pradarias verdejantes
após abismos e ingremidades.

horizonte de amanheceres
e por-de-sóis multicoloridos

e pelo brilho disposto desse olhar
deduzi:
há força nesse caminhar!

como os caminhos são muitas vezes
diferentes
desejei juntar-me à caminhada.
ainda
sua boca não declarara:
"eu te amo!"
nem retrucara:
"eu também"
e meu ouvido já se deliciara
com um determinado
"meu marido passa aí."

de todas reações possíveis
impossíveis momentos acontecem
o que era velho
inusitado se retorna
e sentir-se companheiro
nessa vida de plurais anônimos
e convergentes singulares
em meus ouvidos balbuciam sons
sob a leve brisa
que passeia pelas quadras
blocos e bosques a lembrar
que a solidão é a véspera do encontro.
quando chegar o seu tempo
de vida nova nas mãos
ela vai voar
para lugar distante
pois o seu horizonte
está por descortinar-se
e a sua vontade de mundo
não está satisfeita

as crias que a vida lhe dera
serão páginas da história
que está a escrever
e... quem dela participar
será apenas margem
de sua caminhada.

marcos

hove marcos na vida de todos nós
que vivemos próximos

em cada um persiste
um ensinamento despretensioso

uma frase, um gesto, uma reação
que a cada um marcou profundamente

"cada um, cada um"
lembrando diferenças

"se brigam é porque se gostam"
ensinando a tolerância

e... em cada memória
a sua marca especial

passou pelo poder
sem arrogância

pela fartura
sem prepotência

pela carência
sem sofrimento

partiu deixando marcos
inspirando novos

viver como passarinho:
buscando vôos

morrer como a centenária árvore:
espalhando vida.

verdades

"deus é onipotente"
"água é vida"
"a natureza é bela"
"a criança é o futuro"
verades e consensos

a verdade também é poder
"o lucro justifica a ação"
"a proriedade é um roubo"
"o capital explora o trabalho"
representando ideologias
que aliciam as pessoas

a verdade tem várias faces
nuances e ângulos
influências e composições
o determinismo, o iluminismo
o existencialismo, o cristianismo
e outros ismos mais.
já fui vassalo de paixões
hoje
curto a gostosa monotomia do amor
que atenua presenças
e
torna insuportável
qualquer tipo de ausência.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

incompletude

sou um ser incompleto
você é a minha completude
olho minhas limitações
vejo-lhe completando lacunas
minha história sem você
são palavras em ordem alfabética
sem razão de ser.

em construção

ando meio anjos, meio bazzo
meio baixo, meio banzo
meio indeciso na vida:

não sei se fico
ou
se a estrada é minha lida

...

enterrei meu sonho de uma lápide de mármore:
já me contento com uma vala rasa no bosque
alimentando raízes de tempos

domingo, 2 de agosto de 2009

esse não vai na lapa

fui ao samba no "beco do rato" - na lapa
em busca de autonomia e apartação
pro meu combalido coração

encontrei vários corações solitários
ao contrário
buscando união e ocupação.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

eu e a vida

a minha relação com a vida
sempre foi a de um leitor
mesmo quando me referencio em mim
o faço como espectador.

sem título e sem futuro

o seu desamor
atrai outros braços ávidos
imãs de feromônio

a sua desatenção
me revela ombros solidários
onde desfazer-me de carências e mágoas.

sem título

às tardes, só,
me lembra marina
e longas estradas de espanha
calos nos pés
e horizontes nos olhos.

a loura de bike na barragem do paranoá

em meio à neblina ou cerração
os fios de ouro, o porte ereto
a aparição.

em manhãs de sol
os cabelos loiros, o porte ereto
a conferição.

ora a(s)cendendo ou não
a loura de bike
na barragem do paranoá.

segunda-feira, 2 de março de 2009

eu e os pts

tive dois pts amigos na adolescência
o paulo de tarso, o tute
fã de paulo sérgio
e o paulo tovar
fã de roberto carlos

o pauto de tarso
tocador de cavaquinho
em minhas serenatas
o pauto tovar
o compositor
de minhas primeiras canções

hoje, depois de lutas
de classes
de defesa de categorias
contra a ditadura
por democracias várias
mantenho três pts:
o paulo de tarso, o tute
alfaiate desaparecido
o paulo tovar
o músico entumescido
e o partido dos trabalhadores
o enrubescido...

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

professor, profissão: amor

o professor e a professora
casados com o ensino e a educação
geram a filha aprendizagem
base para outras profissões

puxa sonhos pelas mãos
dando-lhes linhas de realidade
transformando pesadelos
em estradas largas e claras

aumentar a chama do conhecimento
e reparti-la a quem clama
Prometeus entre deuses e abutres
na recomposição do dia-a-dia

de cada criança a curiosidade
de cada adolescente a inquietude
de cada adulto a indecisão
o alimento para a sua paixão

existe a profissão de fé
que das almas tem cuidado
existe a profissão de amor
que a inteligência tem regado

quem não traz na memória
aquela imagem cândida ou severa
que nas nossas dispersões
chamou-nos a fazer história?!