Quando o trem partia de Ouvidor, de dia ou adentrando a madrugada, frio ou calor, Catalão invariavelmente ouvia um "canto penado" que - muito mais que galhofante - era uma ponta de faca na consciência de cada catalano em suas "encucações".
Cada qual sentia naquele canto o alerta para que a sua mente escravizada em algum fato torturante do passado ou do presente despertasse os seus fantasmas.
Todos esperavam ansiosamente - nervosamente ou não - o horário do trem de ferro passar, depois de ribombar pela Boda-da Onça, Rua da Grota, Rua da Capoeira, Rua do Pio, Rua do São João, o canto:
"Ói o trem, o trem lenveeeeeeeeeeeeeeeeeeeemmmmmm!!!
Ói o treeeemmm lenveeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeemmmmmmmmmmmm!!!!..."
E assim procedia até ser ouvido o ronco da Diesel adentrando a rua da Boca da Onça e prosseguia com mais euforia quando ela apontava lá na curva da Benedita:
"Ói.. óiiiiiiiiiiiii oooooooo treeeeeeeeemmmmmlenveeeeeeeeeeeeeeemmmmmmm!!!
Óiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii00000000treeeeeeeeemmmmmmmlenveeeeeeeeeeeeeeeeemmmmm!!!
Ói o treeeemmm lenveeeeeeeeemmmmm!!!!"
O trem passava puxando a sua corrente de cargueiros - pois os vagões de passageiros foram cortados pro mode a barragem que trouxe o "mar" para Três Ranchos - e atrás de si ficava o silêncio estarrecedor com a presença do Zé do Trem muito feliz e realizado voltando rapidamente para o aconchego de sua casa.
no meio do silêncio continuava a ribombar na existência de cada um aquele canto de aviso:
"Ói o trem lenveeeeeeemmmmmmmmmmmmmmmm!!!!"
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