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... que trago em mim...

a criança: é birrenta e infantil a mulher: é ciumenta e barraqueira o político: é extremista e guerrilheiro o santo: é profano e &...

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

brasília é o meu nicho

brasília é o meu nicho
também o meu ninho
a “capital da esperança”
virou periferia de sonhos

onde jorrar “leite e mel”
jorram barracos e miséria
violência e luta pelo pão

o que era futuro
transmuta-se em tradição
e há poetas sem norte no lago
pregando a sua auto-destruição

separação

minhas roupas nevando
pela janela do sexto andar
e submergindo na vaziez
causada pela situação

no horizonte sob os blocos
após os pilotis
apenas mais pilotis

a cidade
cúmplice da separação

brasília sob fogo cerrado

línguas de fogo lambem
os campos do cerrado

em formação de combate
dizimam fauna flora... vidas

o fumo, névoa seca
abóbada sob o céu de Brasília
limitam nossa “vã filosofia”

sábado, 10 de novembro de 2007

primeiro o primeiro

no meu quintal tem tantas fruteiras
que a sombra até faz bem
faz o corpo se desprender
até às últimas consequências
do prazer
do primeiro passo
do primeiro pássaro
do primeiro amor
do primeiro beijo
da primeira barba
do primeiro lugar

guloseima


sempre que te olho ou ouço
meu coração bate-bate
que nem ovo pra fazer suspiro
e meus olhos ardem
como quando a gente
se esforça pra dormir

o que fazer?

minhas certezas são tão certeiras
que basta conferir os resultados
meu peito é um grande lago
meu coração um ganso
muito louco pra se afogar
mas minha cabeça não deixa
liga-se em fatos tão voláteis
como o futuro
e nem se apercebe qua a faca
afiada e ponteaguda
está apontada para a nossa vez

anarco

vivo de falsas famas
todo dia
crio recrio e mato a minha liderança
governar a sociedade
pelo caos da ilusão
sou boiadeiro sem bois
anarquista, sim senhor.
e daí?
"me dá um dinheiro aí?
me dá um dinheiro aí?"

não-sim

tenho tantos álibis
que às vezes me pego
me justificando
pra mim mesmo
os álibis do sim
os álibis do não
e, subterfúgios à parte
me entrego de alma
o corpo

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

nossa realidade
é que nem os meus cabelos
que caem dia a dia como a luz no sertão

quando o sonho tenta nos arrastar
ela nos prende rente ao chão
joga beijos pra fantasia
dá bananas pra ilusão.

banho de desejo

a ducha quentinha
dessa chuva corona
gosta de abrir as poças porosas
do meu corpo
como quando a ducha dos seus olhares
me percorrem nu
achando engraçado meu peru glugluzando
ouriçado e vermelho
que nem esses por-de-sol juninos de brasília
todo o meu corpo interinho pipoca.
ah, se esse banho nunca acabasse!

inesperado

estou com as calças no joelho
e o telefone na orelha
é que o meu amor me telefonou
e eu estava cagando
e eu estava esperando...

prova subjetiva

o que é solo passional?
é a camada superficial da crosta cárdica,
onde as fendas desérticas fazem com que
os raios multicores do sonho
sejam lançados com força tal
que atordoa a realidade existente
num raio de até duas pessoas
deixando-as possessas de ausências
de si mesmas.

anúncio classificado

perdeu-se no trajeto
praça dos três poderes/rodoviária
uma azeitona voadora
com a qual combatia-se
a fome, a violência, as intempéries...
quem encontrou não precisa devolver
reparta-a com os vizinhos

bela vista

a lua está qualquer coisa
que não sei
se é ela que faz sombras na sacada
ou é imaginação
faz tanto tempo
que ela não visita
meus olhares perdidos
entre os pilotis da cidade...

brasília 1977

brasília
tu tens a minha bosta incrustrada em teu solo
minha urina irrigando os teus verdes
as minhas mãos na plantinha que plantei
no jardim do bloco "S"
o meu olhar
perdido em teus horizontes
como a minha voz está em teu passado
e o meu coração
numa lixeira da 312 norte
tô cagando andando
pro que der e vier
pois brasília é o centro
de uma circunferência
de horizontes todos planos e iguais
nos levando para o infinito

tomada de consciência

eu não posso mais ficar tão distante
como se o mundo estivesse isolado de mim

eu preciso penetrar nesse círculo
e viver como se troxesse
o mundo dentro de mim
sentindo toda a efervescência humana
nas batidas do meu coração

ode às sqs

enquanto pito o meu pito
vou cantando:

fico em jejum
na cento e um

te encontro pois
na cento e dois

perco o pedrês
na cento e três

acho o seu retrato
na cento e quatro

piso com afinco
na cento e cinco

sinto ocês
da cento e seis

o caso se repete
na cento e sete

e corro afoito
para a cento e oito

você me comove
sentado na cento e nove

tristeza, invés
na cento e dez

bate forte o bronze
na entrada da cento e onze

e sofrer é dose
à saída da cento e doze

embora eu reze
me assombro na cento e treze

e saio de vez
pela dezesseis

dito

eu tinha um padrinho (nêgo) cego.
um dia, no jantar, na fazenda,
comendo rapidamente,
ele parou pra dizer:
"engraçado né siô?!
a gente pode errar tudo nessa vida
menos o buraco da boca!"

beijo no asfalto (ao nelson rodrigues)

de repente o corpo nem se apercebe
que o coração já voou pela boca
e... nunca mais.
é quando o êxtase da raiva, da impotência
acontece
e a gente vê que foi tragado
pelas engrenagens urbanas
das neuroses
panfletos libertários/falsos testemunhos
pelas engrenagens da mentira
que se tornou verdade
e...
nem por isso o sol
deixou de se esconder.

(coprólocu)

uma passo: eu aviso!
dois passos: pipoqueio o ar!
três passos: tenho o direito de matar!

(o oculista)

quando olho nos seus vitreos olhos
vejo refletida a minha lua de neon
ah, se a "língua do povo"
fosse tão gostosa
quanto a sua!

receituário

ah, ser psiquiatra!
adquirir de todos
um pouco de loucura
e ser de todos
o louco mais completo!

roteiro de um pesadelo

o travesseiro ensopado...

em uma mesa de bar
assédio explícito a você
nenhuma reação contrária...

rechaço os invasores e...
nada!

acordo.

o travesseiro ensopado.