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domingo, 16 de agosto de 2009

ZÉ DO TREM - lembranças de Catalão

Quando o trem partia de Ouvidor, de dia ou adentrando a madrugada, frio ou calor, Catalão invariavelmente ouvia um "canto penado" que - muito mais que galhofante - era uma ponta de faca na consciência de cada catalano em suas "encucações".

Cada qual sentia naquele canto o alerta para que a sua mente escravizada em algum fato torturante do passado ou do presente despertasse os seus fantasmas.

Todos esperavam ansiosamente - nervosamente ou não - o horário do trem de ferro passar, depois de ribombar pela Boda-da Onça, Rua da Grota, Rua da Capoeira, Rua do Pio, Rua do São João, o canto:

"Ói o trem, o trem lenveeeeeeeeeeeeeeeeeeeemmmmmm!!!
Ói o treeeemmm lenveeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeemmmmmmmmmmmm!!!!..."

E assim procedia até ser ouvido o ronco da Diesel adentrando a rua da Boca da Onça e prosseguia com mais euforia quando ela apontava lá na curva da Benedita:

"Ói.. óiiiiiiiiiiiii oooooooo treeeeeeeeemmmmmlenveeeeeeeeeeeeeeemmmmmmm!!!
Óiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii00000000treeeeeeeeemmmmmmmlenveeeeeeeeeeeeeeeeemmmmm!!!
Ói o treeeemmm lenveeeeeeeeemmmmm!!!!"

O trem passava puxando a sua corrente de cargueiros - pois os vagões de passageiros foram cortados pro mode a barragem que trouxe o "mar" para Três Ranchos - e atrás de si ficava o silêncio estarrecedor com a presença do Zé do Trem muito feliz e realizado voltando rapidamente para o aconchego de sua casa.

no meio do silêncio continuava a ribombar na existência de cada um aquele canto de aviso:

"Ói o trem lenveeeeeeemmmmmmmmmmmmmmmm!!!!"

sábado, 15 de agosto de 2009

você terá tudo que quiser
vou sair de fininho
como sempre fiz:
sem deixar vestígios
da minha passagem
nem traumas da partida.

o amor não se impôem a ninguém
nem há paz nascida de guerras
feridas expostas
vidas estancadas
desejos frutrados
da depressão só poemas sentimentais

só há vida feliz
quendo cúmplices do destino.
sua vontade tem 21 anos
25 anos depois do que vi
o mundo que vês agora
é diferente de tudo que vejo
conheci-a seguindo o horizonte
que havia na ponta do seu olhar
horizonte de pradarias verdejantes
após abismos e ingremidades.

horizonte de amanheceres
e por-de-sóis multicoloridos

e pelo brilho disposto desse olhar
deduzi:
há força nesse caminhar!

como os caminhos são muitas vezes
diferentes
desejei juntar-me à caminhada.
ainda
sua boca não declarara:
"eu te amo!"
nem retrucara:
"eu também"
e meu ouvido já se deliciara
com um determinado
"meu marido passa aí."

de todas reações possíveis
impossíveis momentos acontecem
o que era velho
inusitado se retorna
e sentir-se companheiro
nessa vida de plurais anônimos
e convergentes singulares
em meus ouvidos balbuciam sons
sob a leve brisa
que passeia pelas quadras
blocos e bosques a lembrar
que a solidão é a véspera do encontro.
quando chegar o seu tempo
de vida nova nas mãos
ela vai voar
para lugar distante
pois o seu horizonte
está por descortinar-se
e a sua vontade de mundo
não está satisfeita

as crias que a vida lhe dera
serão páginas da história
que está a escrever
e... quem dela participar
será apenas margem
de sua caminhada.

marcos

hove marcos na vida de todos nós
que vivemos próximos

em cada um persiste
um ensinamento despretensioso

uma frase, um gesto, uma reação
que a cada um marcou profundamente

"cada um, cada um"
lembrando diferenças

"se brigam é porque se gostam"
ensinando a tolerância

e... em cada memória
a sua marca especial

passou pelo poder
sem arrogância

pela fartura
sem prepotência

pela carência
sem sofrimento

partiu deixando marcos
inspirando novos

viver como passarinho:
buscando vôos

morrer como a centenária árvore:
espalhando vida.

verdades

"deus é onipotente"
"água é vida"
"a natureza é bela"
"a criança é o futuro"
verades e consensos

a verdade também é poder
"o lucro justifica a ação"
"a proriedade é um roubo"
"o capital explora o trabalho"
representando ideologias
que aliciam as pessoas

a verdade tem várias faces
nuances e ângulos
influências e composições
o determinismo, o iluminismo
o existencialismo, o cristianismo
e outros ismos mais.
já fui vassalo de paixões
hoje
curto a gostosa monotomia do amor
que atenua presenças
e
torna insuportável
qualquer tipo de ausência.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

incompletude

sou um ser incompleto
você é a minha completude
olho minhas limitações
vejo-lhe completando lacunas
minha história sem você
são palavras em ordem alfabética
sem razão de ser.

em construção

ando meio anjos, meio bazzo
meio baixo, meio banzo
meio indeciso na vida:

não sei se fico
ou
se a estrada é minha lida

...

enterrei meu sonho de uma lápide de mármore:
já me contento com uma vala rasa no bosque
alimentando raízes de tempos

domingo, 2 de agosto de 2009

esse não vai na lapa

fui ao samba no "beco do rato" - na lapa
em busca de autonomia e apartação
pro meu combalido coração

encontrei vários corações solitários
ao contrário
buscando união e ocupação.